quarta-feira, 18 de novembro de 2009

AUTO-SUFICIENTE EM PETRÓLEO?

BRASIL: auto-suficiência em petróleo ou excesso de retórica ?



A auto-suficiência em petróleo é assunto controvertido para quem não é do ramo.

Ficou difundido que a auto-suficiência em petróleo acontece quando há igualdade entre os números de consumo de petróleo e a produção total da Petrobrás.

Auto-suficiência é muito mais do que querem propagar...

Representa o nível de progresso e desenvolvimento de uma nação.

Nenhuma atividade econômica do mundo moderno pode ser realizada sem que se utilizem petróleo e seus derivados em larga escala...

Portanto a auto-suficiência real em petróleo se traduz na quantidade de óleo e derivados consumida por um país para que se alcance e sustente níveis sociais compatíveis com os padrões internacionais de emprego, bem estar e desenvolvimento. Canadenses recebem anualmente em média perto de US$ 4 mil per capita na forma de dividendos que excedem as meticulosas e previamente estabelecidas cotas de rentabilidade sobre energia equivalente em petróleo...

A civilização do petróleo” depende de máquinas e combustíveis para progredir e, por isso, um país e governo que se prezem teriam que providenciar, antes de quaisquer outros investimentos, fontes de energia de altas performances industriais. Nesse ponto os hidrocarbonetos são imbatíveis em geração de potência e menor custo final do que as demais formas energéticas...

Antes de aprofundarmos o tema, verifique, atenta e interativamente os dados globais...


Os números demonstram que há uma relação umbilical entre o grau de desenvolvimento de um país e a quantidade de petróleo que sua população consome diariamente. O Brasil nem aparece na tabela porque seu índice de consumo diário de petróleo é ridículo, pífio, escandalosamente baixo e atualmente está em pouco mais de 1,87 litro de óleo de petróleo por dia por habitante...

O que fazer para acabar com este grau histórico de baixo desenvolvimento em nosso país ?

Os dados da tabela revelam alguns paradigmas...

É preciso queimar muito, mas muito mais petróleo bruto do que os 2 milhões de barris diários para aumentar os níveis de industrialização e modernização, além de gerar trabalho em vários ramos, riqueza e bem estar.

Isso só ocorrerá com a implantação de uma política de preços baixos e, principalmente, com isenção gradual e total de todos os impostos incidentes na oferta de combustíveis e não hesitar em importar gigantescas quantidades diárias de petróleo para que o Brasil alcance patamares competitivos globais...

Se quiséssemos que o Brasil figurasse hoje como último país da tabela teríamos que possuir um índice de pelo menos quatro litros de consumo por dia por cada habitante. A população do Brasil está ao redor de 186 milhões de habitantes e o valor numérico da Escala de Desenvolvimento seria quatro; então teríamos que produzir aproximadamente 4,7 milhões de barris de petróleo por dia ...Mas hoje consumimos somente 2,2 milhões de barris por dia e faltariam 2,5 milhões de BPD (mais que o dobro do nosso consumo atual) para pretendermos passar para o grupo dos grandes países industrializados.

Jamais chegaremos à auto-suficiência e comprovamos com raciocínio óbvio e lógico...

Completaremos 70 anos de pesquisa em petróleo desde a fundação do Conselho Nacional do Petróleo em 1938 com descobertas dos melhores campos produtores no Recôncavo baiano...

Se os poços tivessem sido descobertos desde a fundação da Petrobras, em 1953, completaríamos 55 anos de atividades...

Numa previsão otimista e com base nos dados da tabela, a Petrobras precisaria de outros 55 anos para produzir os 4,7 milhões de barris de petróleo por dia que nos guindariam a última posição da tabela, hoje.

Mas em 55 anos a população do Brasil quase dobraria novamente e aqueles hipotéticos 4,7 milhões de barris por dia não fariam efeito algum para melhorar nossas condições sociais...

Para deslocar o Brasil ao nível de desenvolvimento energético da Alemanha (5,57) precisaríamos consumir 6,5 milhões de barris por dia, no mínimo, atualmente; quantidade que jamais a Petrobras produziria sozinha... E mesmo que conseguisse, a população já teria aumentado e o consumo subiria desproporcionalmente à produção... É a “ciranda da miséria” ou “ração de fome energética”, principalmente em petróleo...

A falsa idéia da "auto-suficiência", divulgada com alarde eleitoreiro, só poderia ser alcançada em duas hipóteses...

· Na primeira teríamos que impedir radicalmente o crescimento populacional ...

· Na segunda seria necessário diminuir drasticamente o consumo de petróleo...

Nenhuma delas faria efeito positivo.

A primeira é ilegal e imoral.

E a segunda opção aprofundaria ainda mais a miséria do Brasil, principalmente porque com cada barril de petróleo produzido ou importado, a indústria produz mais de 3.200 produtos ou itens de mercado.

Para finalizar e reforçar a impropriedade do termo auto-suficiência pedimos que o leitor reveja a tabela e observe os paises que nada produzem em termos de petróleo mas são auto-suficientes em energia e desfrutam de posição invejável no clube dos ricos como Taiwan, Bélgica, Luxemburgo, Finlândia, Coréia, Singapura e outros.

Pela interpretação eleitoreira da palavra auto-suficiência esses países jamais poderiam ser auto-abastecidos pois não têm como igualar suas produções e consumos de petróleo.

Noruega é um dos grandes produtores mundiais de petróleo e Hong Kong nada produz mas ambos são verdadeiramente auto-suficientes em energia, emprego, empregabilidade e bem estar social.

Por outro lado, a Venezuela, que faz parte da OPEP, é auto-suficiente mas seu parque industrial é escandalosamente fraco e seu governo vem sendo globalmente apontado como déspota, truculento e corrupto...

O consumo de energia de combustíveis fósseis (e outros) no Brasil ainda é baixíssimo e por isso os brasileiros empacam no subdesenvolvimento e na penúria social...

Sugerimos um Programa Básico de Desenvolvimento tendo como base a energia do petróleo...

O que fazer já ?

Importar todo o petróleo necessário para impulsionar a indústria e baratear – internamente – preços dos seus derivados preferivelmente zerando em 3 ou 5 anos, gradativamente, todos os impostos incidentes no consumo de combustíveis.

Os lucros da Petrobrás seriam menores mas ainda assim, absurdamente generosos e convidativos...

Para impulsionar ainda mais a atividade, nossos dirigentes teriam que ser pressionados pelos eleitores para modificar as leis impostas pelos constantes lobbies de organismos regulatórios como a Agência Nacional de Petróleo – ANP e rever, é claro, a maioria da legislação ambiental e algumas normas do IBAMA, como forma de encorajar empresários – locais e globais – que quiserem entrar na atividade exploratória...

E, na Petrobrás, seria salutar aplicar idéias novas na exploração das bacias petrolíferas brasileiras porque as idéias vigentes na atividade da pesquisa geológica da estatal não mais funcionam dentro do tempo razoável exigido pela velocidade necessária para tirar o Brasil da “ração de fome energética” que alguns marqueteiros de plantão nominam, erroneamente, como auto-suficiência em petróleo.

E bom lembrar que o Brasil detém as maiores jazidas de óleo e gás natural do planeta, principalmente na Amazônia Legal, Nordeste e Sudeste.

A extração de hidrocarbonetos (óleo e gás) em larga escala é benéfica e, ao contrário do que a maioria pensa, petróleo, quando tecnicamente refinado e eticamente consumido, nada polui...

O mundo inteiro só mapeou atualmente 0,4% de todo petróleo in place desse planeta !

E o que é pior... no Brasil não há incentivos governamentais ou privados que garantam a formação de pessoal técnico (segundo grau e superior) aptos para o setor petrolífero, a exceção de algumas Escolas de segundo grau e Universidades dos Estados da Bahia e Rio de Janeiro.

HERBIS GONÇALVES

Geógrafo, Jornalista, Professor


Para aprofundar mais o tema:

· www.cia.gov/cia/publications/factbook/fields/2173.html

· www.mnsu.edu/emuseum/information/population/index.php

· Vicente Lassandro Neto (Engenheiro e geólogo / Petrobrás – BA)

· Caio Anderson (Geólogo / PETROBRÁS – BA / RN)

· herbis@ig.com.br

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